Sua vida tem trilha sonora? A minha tem! Será que só eu faço associações musicais a momentos da vida? Acho que não! E se eu disser que vivo fazendo tais associações? E mais, e se eu disser que algumas delas são tão fortes a ponto de me fazer aposentar um álbum para não pensar em certas coisas ou escultá-lo compulsivamente para manter pensamentos vivos por mais tempo? Isto é normal? Não sei. As vezes acho que estou a beira da insanidade. Mas gostar de musica boa é loucura? Claro que não! Quem não sabe o que é música boa não sabe o que está perdendo! É verdade que o conceito de música boa depende do "ouvido" de cada um, mas neste blog eu divido a minha visão conceitual através de postagem sobre trilha sonora, bandas preferidas, festivais de música, memórias de concertos, momentos musicais com amigos e outras amenidades!

Nota: Este Blog não tem grandes pretensões, mas é feito para quem tem uma relação mais intimista com a música!

por Romulo Heitor

25/09/2011

Os Amigos musicais no Rock in Rio


Os dois Rock in Rio 2011 por Renato Carvalho

Renato Carvalho: Dentista, amigo que não pude
hospedar na minha casa por estar ausente,
 mora em João Pessoa e  curtiu o 1º dia de Rock in Rio.
E numa breve avaliação do 1° dia do Rock in   Rio 2011, posso dizer aos que ainda vão e/ou aos que pensam em ir , que existem 2 "Rock in Rio" : Um dentro e outro fora da Cidade do Rock. O evento que tem a responsabilidade do Medina é de fato algo impressionantemente grandioso . Muito bem feito, organizado, bonito e pronto para utilizar a imagem da cidade do Rio de Janeiro e do Brasil para dar bons frutos diante do mundo . Logico que não e perfeito, ha roubos lá dentro, tudo é caro e a fila esta presente em todos os lugares lá dentro . Mas você pode ter mais atenção nos seus pertences ( e não precisa levar seu iPhone4 nem seu rolex comprado em 36x) , comer em casa seu pão francês com 8 fatias de presunto e fazer novas amizades enquanto aguarda na fila .

Já aquele OUTRO Rock in Rio citado no inicio do texto, que tem como "proprietário" a prefeitura e/ou governo do Rio de Janeiro, esse sim prova que antes de chegar e depois de sair da cidade do rock , você definitivamente esta em um evento de 1° mundo , num pais de 3°. Fica claro que o Brasil e o Rio de Janeiro, por mais que tenham melhorado nos últimos tempos, deixa muito a desejar em relação a transporte, organização e informação  para um mega evento como é o Rock in Rio do Roberto Medina. Excetuando que vc seja um dos artistas a se apresentar ou seu transporte normal seja um helicóptero , você verá cenas caóticas de gente demorando ate 4 horas para fazer um percurso de 45 min; ficar alguns bons quilômetros de distancia da entrada da cidade do rock por não ter acessibilidade direta;  correr atrás de ônibus num terreno cheio de areia e poeira tendo o grande risco de ser pisoteado ou atropelado ( a cena lembra muito as boiadas de rodeio – onde os bovinos são os usuários ); filas de ônibus absurdamente desorganizadas ate que chegue no ponto de transferência chamada Alvorada na Barra da Tijuca; Pouca gente capacitada para dar informações precisas ; motoristas de ônibus credenciados que se falam ¨lebRon¨ , fico a pensar como se comunicam com algum dos milhares de turistas estrangeiros (?) ; e como todo bom ( safado ) brasileiro, sempre levando vantagem em tudo ... cobrando o dobro do valor de uma passagem que ja tinha valor predeterminado.

Enfim, se vc  não tiver sua aeronave particular , não espere que esse País tupiniquim vai te acomodar no evento do Medina de forma digna e eficaz como os americanos fazem nos shows na Madison ou os Europeus no Stade de France . Iluda-se no máximo nas 16 horas apos atravessar os portões da cidade do Rock , por que de resto, continua sendo o lugar emergente, desorganizado, inóspito e corrupto que o Brasil sempre será .  Mas ainda ha a alternativa do Rivotril! 


15/09/2011

O "sacode" de Amy no mundo POP



Ao longo de sua carreira, ela nos presenteou com não mais do que dois álbuns (muito bons diga-se de passagem), e um punhado de shows alternados (ou não) com bons bocados de confusão. Hoje ela completaria o seu 28º aniversário (na mesma data que a amiga Fernanda Fumanelli... Coincidência?? Talvez...) e também hoje, pegando embalo com o frenesi da mídia para arrecadar fundos póstumos (lê-se: aproveitando a data entre o aniversário da Amy e data de divulgação oficial da causa da morte para dar um "upgrade" no bolso de terceiros a custa da "defunta") foi divulgado o dueto de Tony Bennett e Amy cantando o jazz "Body and Soul"




Alfinetadas à parte, a música foi lançada, segundo a família de Amy, para lançar (e, porque não, financiar) uma organização de amparo a jovens com problemas de dependência química (www.amywinehousefoundation.co.uk)O vídeo recupera partes do momento da gravação, que aconteceu em março, em Londres, e mostra um ambiente de grande cumplicidade entre ambos. Gostei da interpretação de Amy. Bonito vê-la assim, como artista imponente e sóbria.


Agora me pego a pensar: porquê este vídeo foi menos repercutido que a notória morte de Amy? Ela viveu pouco e intensamente, o que na minha opinião fez com que ela produzisse com qualidade... Mas porque a minoria consegue enxergar tal feito (ou fato)? Porque a morte da Amy se tornou mais "glamurosa" do que a sua própria arte (ou mesmo a arte inspirada nela)?


Deixo claro aqui que, por se tratar de uma artista popular como ela, eu preferiria ter ouvido outra notícia que não a sua morte. Poderia esperar qualquer tipo de "informe". Ela poderia ter anunciado que viria ao Rock in Rio, por exemplo. Ou quem sabe teria dado outro vexame federal numa apresentação numa pequena ex-república soviética. Dada a expectativa em torno de um novo disco seu, quem sabe algum material inédito tivesse vazado na internet… Ou quem sabe – como eu sou sempre otimista – ela tivesse convocado uma grande entrevista coletiva para comunicar ao mundo que estava “limpa” – livre das bebidas e das drogas! Tudo isso era possível, mas minha reação imediata ao ouvir a notícia foi racionalizar o óbvio... E nem teria sido preciso ouvir que a causa da morte estava relacionada com uma complicação relativa às bebidas e às drogas.


É como se as pessoas – todos, inclusive eu e você – estivéssemos esperando isso dela. Sua morte “trágica” (esse adjetivo foi mais usado para descrever o que aconteceu com Amy do que “inesperada”) soou como se fosse apenas uma questão de tempo – um mero ponto final de um processo inevitável que ela já havia anunciando em episódios cada vez mais repetitivos, alardeados como crônicas bizarras pela imprensa. Sendo até um pouco atrevido, não duvido que houvesse até quem torcesse secretamente para que isso acontecesse – pelos motivos mais confusos, desde a necessidade de preservar sua obra intacta (antes que ela começasse a oferecer discos medíocres em uma suposta carreira decadente), até pela mórbida obsessão de poder ler um obituário brilhante sobre uma artista que deixa o mundo no auge da sua carreira.


Bem, para aqueles que imaginavam (veladamente ou não), que sua morte traria um inevitável circo de mídia – bravo! E foi vendo justamente esse “espetáculo” que eu comecei a me perguntar qual era o sentido de tudo aquilo. Por que a reação à morte de Amy foi tão histérica? Porque "espremer" tanto o caso clínico de Amy? Aposto que em outubro, quando divulgarem oficialmente o que causou a sua morte o mesmo blá-blá-blá ressuscitará. Acho uma bobagem esse burburinho da mídia! O que este povo que promove o sensacionalismo espera ouvir a respeito da morte da Amy? Que ela teria morrido por uma infecção generalizada do silicone implantado? 

O “barulho” que a morte de Amy Winehouse provocou, infelizmente, teve muito pouco a ver com a sua arte – e seu inegável talento –, e quase nada a ver com uma ligação genuína que as pessoas tinham por ela. Não estou exatamente duvidando daqueles que realmente sofreram com a perda – que são, calculo, uma pequena fração dos que se manifestaram no "orgasmo múltiplo" da hipocrisia e do marasmo dos comentários referente a sua morte. Mas não posso deixar de questionar como sua morte teria repercutido se não vivêssemos uma era tão conectada. O que seria muito bom se essas conexões não fossem vazias…


Como escrevi logo no início, a carreira de Amy foi relativamente curta – ainda mais se comparada a outros ídolos da música que partiram em circunstâncias parecidas e são venerados (e velados) até hoje. Mas a reação à notícia de sua morte foi tão grande que eu arriscaria até a dizer que foi desproporcional com relação ao seu legado – a não ser pelo fato de que… ela merecia tudo isso. Parece confuso? Explico.


Qualquer pessoa que aprecia a arte sabe que quando um artista é revolucionário, não importa se ele ou ela deixou um, dois, três, vinte discos – ou vinte livros, trinta peças, quarenta filmes, cem quadros. O que devemos sempre lamentar é o fato de que ele ou ela nos deixou com a promessa de que muitos outros trabalhos interessantes poderiam ser produzidos.


Amy deveria sim ter recebido todas essas homenagens que recebeu – e as que ainda receberá! Centenas de cantoras, músicos, artistas e “performers” vão beber por gerações na sua fonte – e com certeza sonham em um dia poder criar (ou mesmo superar) o sacode que ela deu no mundo do pop. Mas será que todo mundo que soltou um comentário tolo sobre sua morte reconhece esse talento artístico – esse legado? Creio que não…


Justamente pela enorme poeira que se levantou – e que ainda está baixando –, só vamos entender daqui a algum tempo o registro que Amy Winehouse e sua música vai deixar na nossa memória. Eu, por aqui, torço sempre para que a música vença, e para que todo esse “ruído” em torno de sua vida, sua decadência, seu instinto autodestrutivo, seu “mau exemplo” – e até mesmo a ridícula “glamurização” disso tudo –, não vá além do oportunismo imediato de quem quer cultivar o sensacionalismo. Eu prefiro a Amy da obra de Paulo Cavalcante exposta no Museu de Belas Artes do Rio ( foto do início deste post). Eu prefiro a Amy interpretando Valerie!


13/09/2011

O que LOST significa pra você?

Nota: Esta postagem não se refere a música explicitamente mas posto logo abaixo uma música do grande Michael Giacchino (responsável pela trilha sonora de LOST), que de uma forma indireta, traduz o meu sentimento pela série.





Há muito tempo queria escrever sobre LOST. O motivo, ao menos para mim, é extremamente óbvio. Escrever sobre LOST é escrever sobre mim. A ideia aqui não é defender a série, até porque ela tem auto-suficiência para se estabelecer no grupo das mais geniais obras de arte deste século. O fato é que nada que eu tenha visto, ouvido ou lido me descreve tão bem como LOST. Foram cinco anos. Quase um casamento. Quem pode falar mais da relação "RomuLost" (meu apelido durante a graduação) são meus amigos Fernanda, Letícia, Bruno, Lorenzo e Geórgia.... Estudar na terça-feira à noite? Jamais! Festa na noite de terça? Nem pensar! Relatórios na terça à noite? Só se for em sonho! Por cinco anos, as noites de terça-feira foram destinadas a um encontro íntimo entre Eu e LOST, entre Eu e Eu mesmo. Durante cinco anos LOST foi minha religião. E hoje LOST é a minha filosofia de vida.

Não é exagero algum dizer (e por isso o digo agora) que a minha vida pode ser dividida em duas partes: a que antecede e a que sucede LOST! E no intervalo delimitado entre o fim e o início da série eu permaneci  "ilhado". Esta última sentença será melhor entendida mais a frente nesta postagem quando eu expuser o que a ilha  de Lost representa para mim. Mas já adianto que foi no período em que permaneci "ilhado" que eu fui   instigado a pensar e a tentar entender a vida através de questionamentos mais profundos. Definir LOST é extremamente difícil diante da sua potencialidade transmidial materializada por um trabalho coletivo de escrita densa e poderosa. Mas se eu fosse escolher uma definição que traduzisse a essência de LOST escolheria a definição feita por Aldo Grasso.
"Lost é uma obra-prima. É uma reflexão sobre o Ocidente, em sua forma mais angustiada e irredutível. Trata-se de uma reflexão que não tem medo de levar a narrativa até o limite de ruptura: dilatando-a num ciclo de seis anos, desconstruindo sua linearidade temporal e expandindo-a para vários suportes".
Depois desta brilhante e, aparentemente, justa definição fico mais confortável em dizer o que LOST representou para mim. LOST foi o gatilho do processo de mudança da minha vida. Não sei como eu lidaria com as minhas fálicas decisões e os meus fálicos desejos sem ter compreendido a essência de LOST. A cada episódio um novo desejo de pensar, um novo desejo de resposta sobre as questões existenciais sobre as quais eu nunca tinha trilhado um caminho de pensamento na tentativa de descobrir uma resposta. O episódio acabava e a busca pelas referências deixadas pelos produtores só começava.

Foi com LOST que eu fortaleci alguns dos meus valores, olhei para a vida com uma nova ótica, descobri o meu gosto pela Filosofia (e daí o meu fascínio por LOST e a minha vontade de escrever sobre), formei minha opinião a respeito de Deus e da religiosidade, do papel dúbio da ciência, refleti sobre a razão pela qual nós estamos neste mundo, sobre o livre arbítrio, sobre a influência das pessoas na vida das outras, sobre a possibilidade de existência mútua do bem e do mal relativizados nas mais diversas situações da vida, sobre a luta pelo desconhecido, e o mais importante de tudo: sobre a possibilidade de prática  de auto-conhecimento através do comportamento dos outros.
 
Eu não estou sozinho quando o assunto é a influência da série na vida prática. Conheci pessoas que se casaram por intermédio de LOST, por exemplo. Por isso, antes de adentrar em alguns pontos de vista pessoais e deixar mais explicito o motivo pelo qual a série tem sido meu oráculo para a vida, divido alguns vídeos de fãs que transmitem por gesto e palavras o meu carinho e sentimento pela mitologia da série.



Para mim, LOST não deve ser classificado como uma obra de pura ficção científica. A série tem a ciência e o mistério como plano de fundo mas trata, majoritariamente, dos dramas das personagens, por isso a considero um drama-filosófico.

A natureza filosófica de LOST não se esgota no jogo dos nomes de famosos filósofos atribuídos às personagens (John Lock, Jean-Jacques Rousseau, David Hume, Jeremy Benthan) ou no de algum filósofo explicitamente citado (Friedrich Nietzsche).

A adoção dos nomes filósofos não significa que devemos interpretar LOST com as ideias puras destes pensadores. Seguir a pista histórico-filosófica para tentar entender a série, definitivamente (digo por experiência própria) não é o melhor caminho. Vamos pegar o personagem John Lock como exemplo. Até se consegue algumas boas evidências das ações, do  modo de pensar, do comportamento da personagem por meio do pensamento do homônimo filósofo inglês e das distinções elaboradas por ele acerca da relação entre fé e razão. Contudo, essa seria uma pista pouco interessante, pobre de imaginação e criatividade - e sem aquela força ficcional-filosófica que é característica de LOST. Em vez de conduzir-nos por espaços inexplorados, ou ajudar-nos a abrir novas clareiras, seguir as referências históricas da filosofia faz com que nós, apreciadores desta grande obra, andemos em círculos, como acontece às vezes com os protagonistas da série. E não por acaso.

É preciso dizer que a filosofia opera no âmago mais obscuro de LOST, sob a forma de uma série de questões fundamentais: É claro que estas questões não são simples, mas se tornam ainda mais complexas na série porque à todo tempo somos levados a refletir se um conceito único de verdade realmente existe.

LOST coloca em cena exatamente este grande enigma a respeito da verdade, e desdobra como nenhuma outra obra as consequências deste questionamento. A série mostra todos os limites da ideia de verdade como adequação do pensamento e do discurso às coisas e, simultâneamente, resguarda contra os riscos inerentes ao desejo de verdade a todo custo. A série incita a pensar em outra ideia de verdade, além do que é simplesmente "correto", "justo" ou "adequado". É isso que ao mesmo tempo me desconcerta e me fascina na série.

Não se trata simplesmente de descobrir a verdade como meta e fim de uma trajetória. Mas de aprender a descobrir e pensar em outra ideia de verdade. Uma verdade que, ao se revelar, sempre deixa um fundo de ocultação e de mistério que nós aprendemos a considerar como tal.

Lembro-me da repercussão da crítica sobre o início da terceira temporada, quando personagens até então inexistentes na série protagonizaram o primeiro capítulo (e depois se entrelaçaram brilhantemente com a mitologia da série e com as velhas personagens). Foi a partir daí que os produtores começaram a ser julgados como loucos que tinham se perdido na complexidade da própria obra criada. Foi a partir daí que os "fãs" de LOST se divergiram. Talvez a grande parte dos que acompanhavam a série desistiram por desacreditar num fim digno para a obra. Mas, para os verdadeiros "fãs" foi só a ficha que caiu para entender  a primeira grande lição de LOST.

O fato de descobrirmos que existiam outras pessoas na Ilha e de reinterpretar o que havia acontecido até aquele ponto da série foi, á priori, difícil de engolir. Era quase um alerta dos produtores bem ao pé do nosso ouvido: Cuidado com suas interpretações porque as verdades tão buscadas  pela série (e pelos fãs) são relativas, como toda e qualquer verdade que você julga existir! Sensacional. Daquele ponto em diante fazia sentido entender que o que nós sabíamos da série como um todo era a visão da realidade de Jack, já que é o olho dele que abre o episódio piloto da série. Porém, não se trata de um caso isolado. A série inteira é repleta de episódios que se abrem com o olho de uma das personagens, sublinhando quase obsessivamente o fato de que tudo acontece de acordo com o ponto de vista e a perspectiva.

Outra maneira, bem subliminar, mas bem bonita e interessantes que os produtores explicitaram o comprometimento de LOST com a relativização da verdade foram as constantes presença de clareiras na Ilha, retomando o pensamento filosófico do pensador Heidegger:
"Não existe verdade absoluta porque não há clareira na floresta sem as densidade do contraste da própria floresta. Se penso que a clareira é a própria verdade por ser um espaço da luz e da visibilidade, devo admitir que a verdade só existe sob uma referência, assim como a clareira só existe devido a densidade da floresta".
Outras grandes questões (e estas meus caros talvez sejam dignas de pensarmos pelo resto das nossas vidas) que LOST levantou durante as seis temporadas foram: No fim das contas, até onde é valido questionar tudo em busca da verdade? Quem deve buscar a verdade?

Veja bem como LOST insiste em instigar até o limite a busca pela verdade. Locke é "construído" na série como o homem de fé (ele mesmo acredita que voltou a andar movido por sua fé), Jack como o homem da razão (médico, e com espírito de justiça), mas é Sayid (um torturador que sabe arrancar "com alicate" a verdade dos sujeitos) que explicita o pensamento de Nietzsche de que "um desejo de morte poderia ocultar-se atrás do desejo da verdade". Aliás, a presença da tortura declarada não é poupada em LOST. Sobrou até para os próprios americanos quando a série sugeriu a nova verdade da tortura produzida pelo ato de enunciá-la publicamente e admiti-la como possibilidade em certas circunstâncias "desconservando" o sentimento de horror de sua prática. O próprio Jack anuncia essa "nova verdade" num diálogo com Frank Lapidus:
Frank: O tal Sayid, de onde ele vem?
Jack: Do Iraque.
Frank: Iraque? E é ele vai resolver a questão? O que faz, é diplomata? (referindo-se à quem poderia tirar a verdade de uma personagem que estava aprisionada)
Jack: Não, é torturador. Ele foi torturador da guarda republicana de Saddam Hussein.
Apesar da busca de tantas verdades ao longo dos seis anos de série. Nenhuma delas teve o caminho tão obscuro quanto a busca do entendimento do que era a Ilha. A Ilha, ela mesma, sempre foi tratada como uma personagem (daí o motivo de ser grafada nesta postagem com a letra inicial maiúscula), e  que por sinal estava sempre à espreita. Para mim, a Ilha pode ser interpretada de algumas maneiras, mas nenhuma forma exclui a outra.

A Ilha pode ser vista como uma metáfora de Deus - ou, mais radicalmente como o próprio Deus, seguindo a ideia elaborada pela filosofia de Spinoza, de acordo com a qual Deus e a natureza se identificam, e cada coisa existente não é senão um modo, uma manifestação de Deus (lembremos de que Lock sempre se referia a Ilha ao invés de Deus na sua jornada de fé). Ao mesmo tempo, a Ilha pode ser vista como uma metáfora do "purgatório", uma vez que ficar "ilhado" significa uma pausa na vida e o começo de uma percepção das personagens do processo de separação do mundo sob a perspectiva da perda e de uma nova origem de mundo, ao passo que os medos internos de cada um deles se materializam num processo de prestações de contas.

O nome da série LOST refere-se ao "estar perdido" na vida e não ao "estar perdido" num espaço geográfico. Daí a minha ligação com a série. Muitas vezes me sinto perdido, como as personagens. A queda do avião representa a parada que todos nós deveríamos fazer nas nossas vidas como um rito de passagem para pensarmos no verdadeiro sentido de nossa existência. Estar "ilhado", nesse caso, significa muito mais que sobreviver à própria morte, significa ter a oportunidade de tentar pensar num sentido maior e mais nobre para a vida. Estar "ilhado", nesse caso, é entender a vida além da sobrevivência.

Desde o nascimento cada ser vivo, inclusive você que está lendo esta postagem, já está habituado com a possibilidade inextinguível morte. É justamente por isso que o luto e a gravidez se entrelaçam indissoluvelmente na Ilha.

Lembro-me de quando Boone ficou gravemente ferido e morreu enquanto Claire dava a luz na floresta. Nada de mais se o episódio não insistisse na incrível fusão de luto e gravidez. Os dois eventos simultâneos ocorreram em espaços distintos: a floresta, para o nascimento, e as cavernas, para  morte. Porém eles foram íntima e indissoluvelmente ligados, graças ao uso da montagem alternada que remete continuamente a um e a outro - quase como se o nascimento do filho da Claire não pudesse ocorrer senão através da morte de Boone. Mas, em que sentido o luto e a gravidez deveriam estar associados? Não são, justamente, estados opostos? A resposta: somente na aparência. Porque dá a luz significa já destinar à morte - começar a fazer morrer. E isso não somente na Ilha, mas na vida de modo geral . Não é possível doar a vida sem doar, simultâneamente, a morte; logo o único modo de fugir à morte seria jamais ter nascido. E, portanto, estar "ilhado" é uma oportunidade de perceber que viver significa (além de sobreviver) compreender a vida e renascer dessa morte que anda antes de ser efetiva.

A série terminou quase como na primeira cena da jornada: Jack se encontrava no mesmo local do acidente e deitado ao lado do cachorro Vincent.  Mas ao contrário de abrir os olhos e ver o avião do próprio acidente ele vê outro avião caindo na Ilha e, em seguida, fecha os olhos. O que esta cena representa pra mim? A resposta: o legado de LOST. O fechamento do olho de Jack refere-se ao fim do seu auto-conhecimento por enfim entender o comportamento oceânico descrito por Freud. Enfim, ele encontrava a paz e os que foram importantes para ele em outra dimensão atemporal, independente de qualquer religião. E o que era o novo avião caindo na Ilha? Mais uma metáfora. Outras pessoas que descobriam a oportunidade de estar "ilhado" para se auto-conhecerem e descobrirem que o que importa nesta vida é o amor altruísta, livre de preceitos e verdades relativas!

O episódio final de LOST que até hoje é lembrado (e pra sempre será) com tanta divergência de opiniões, é para mim nada menos do que M-A-G-N-Í-F-I-C-O. Quem via a série como um quebra-cabeça típico de uma estória de ficção científica se decepcionou, mas quem encarou a série sob a visão de um drama filosófico que representava profundamente a natureza do comportamento humano sentiu a saciedade de descobrir a possibilidade da releitura da própria vida!

OBRIGADO LOST PELA JORNADA. OBRIGADO POR TER TANTA REPRESENTATIVIDADE NA MINHA VIDA!

O vídeo que segue representa muito pra mim. São as cenas finais do final épico de LOST. 

26/08/2011

Podia ser mais uma estória história para anexar à longa lista dos filmes que já assisti numa sala escura contendo uma tela bem maior que a da TV da minha casa. Às vezes me incomodo quando as pessoas restringem o que é contado no cinema ao puro entretenimento. Não gosto dos cinéfilos passivos que gostam de acumular o número de filmes assistidos e nem das pessoas que insistem em limitar os filmes à ficção. Daí a confusão proposital do uso dos termos "estória" e "história" do início desta postagem. A verdade é que a fronteira entre história real (história) e história inventada (estória) me parece fluida demais para tornar funcional a adoção dos dois vocábulos. Todo mundo sabe – ou deveria saber – que a história, bem espremida, é cheia de “estórias”. E vice-versa. Acho mais inteligente deixar a distinção a cargo do contexto. Dito isso, retomo minha linha de pensamento para tornar real o que eu vim escrever aqui hoje.

Não foi uma história qualquer. Enquanto os créditos de "Comer, Rezar e Amar" subiam fiquei esperando o fim da música que abrilhantava a trilha sonora. Uma batida bacana, cheia de ritmo. O filme acabou, e eu voltei pra casa. Até tinha pensado em procurar as músicas que compuseram a trilha sonora do filme, mas me esqueci. Nem sei exatamente porque eu me esqueci disso. Talvez tenha me esquecido da mesma forma que me esqueço de muitas outras coisas que penso. Alguns dos meus pensamentos se vão quando surgem outros, aparentemente, com maior prioridade. A prioridade daquele momento era refletir sobre a história do filme. Até hoje a tal história faz muito sentido para mim. Aliás, a história do filme parece me trazer mais sentido hoje do que antes. 

02/08/2011

O premiado Rock Indie da belíssima Feist


É isso mesmo! Hoje vou escrever sobre o que eu voltei a ouvir compulsivamente nos últimos meses: o moderno Rock Indie da Feist. E os adjetivos que encabeçam esta postagem já declaram a minha admiração pela sua música. 


Se você ainda não a conhece, apresento-lhe agora a voz mais afinada das terras canadenses!
   So Sorry (2007)


O bacana é contar como eu a conheci. Passadas algumas horas desde que eu chegara no Aeroporto Charles de Gaulle para fazer uma conexão a bateria do meu player já tinha "ido pro saco",  e o que me sobrava para combater o tédio, que naquele momento me consumia, era ouvir o som ambiente do aeroporto. As músicas que tocavam eram bem "soft"...dessas que qualquer rockeiro entediado dorme como um anjo em segundos. Como me recuso a ser rockeiro e anjo lutava bravamente contra o sono que não aparecera durante as 12 horas de voo da noite anterior. O fato é que a música que você acabou de ouvir tocou no mínimo umas 20 vezes e em algumas delas de modo consecutivo. A música tocou tanto que consegui decorar o refrão, o que permitiu que eu descobrisse, através do tão útil Google, que Feist era a dona daquela voz afinadíssima! Ouvi quase todas as músicas da canadense via Internet...e me encantei.

28/07/2011

Minha felicidade e a volta do Coldplay

Começar a escrever de música boa parece-me um bom começo para o Blog. Sendo assim, eis-me aqui para dividir minha porca humilde e entusiasmada opinião sobre os 3 singles lançados pelo Coldplay no último mês. 

"Every teardrop is a waterfall", "Major Minus" e "Moving to Mars" foram as faixas divulgadas.

"Every teardrop is a waterfall" é o single que intitula o nome do disco. Se é um bom título para este álbum eu não sei, mas descreve bem a minha relação com a discografia do Coldplay. Confesso que nos primeiros acordes da música sempre lembro de "I've got a feeling" do Black Eyed Peas (Será que só eu fiz essa associação chula???), mas ao longo da canção fica fácil perceber que a "batida pop" é de bom gosto e está acima da média. Aliás, o que falar do videoclipe divulgado? Quando o assisti pela primeira vez concluí que nem tudo que é muito colorido é ruim (Chupa essa manga Cine e Restart!). Fiquei pensando com os meus botões: daria para tirar alguma coisa de bom gosto das "pseudobandas" coloridas se não fosse a presença latente da falta de talento?? Difícil imaginar algo bom vindo dos homenzinhos brasileiros de roupa colorida, mas é fácil perceber o bom gosto do uso das cores no videoclipe do Coldplay. Muito mais do que ver roupas coloridas e  Chris Martin dando pulinhos escrotos no ritmo da música, "Every Teardrop Is A Waterfall" é um bom videoclipe a ser apreciado por estar repleto de efeito Stop Motion, de grafite bem feito, de trechos de letras nas paredes e de luz negra para dar um "style" neon durante o refrão.